Publicado pelo Portal Baixada de Fato em 23/12/2017
Por Leandro S. de Araujo.
De tempos em tempos o chamado “maior porto da América Latina”, precisa fazer dragagem para aumentar a profundidade do canal e permitir a movimentação de navios cada vez maiores.
A VLI, construiu em Santos o TIPLAM – Terminal Integrador Portuário Luiz Antônio Mesquita, e usa deste expediente para ampliar a sua capacidade de movimentação. Até aqui nenhum problema, afinal de contas ninguém é contra o desenvolvimento, se não fosse o buraco de 400 metros de diâmetro e 25 metros de profundidade que foi escavado no meio do manguezal para armazenar resíduos contaminados retirados do fundo no canal de navegação.
Tecnicamente, se é que é possível afirmar que existe alguma técnica em fazer buracos, essa cratera maior que o estádio do Maracanã é chamada de Cava Subaquática e pasmem, fica no lado cubatense do estuário, na única área que a cidade possui para expansão portuária.
É isso mesmo, uma empresa com sede em Santos e arrecada impostos para a terra do rei Pelé construiu um buraco que atrapalha a desenvolvimento de Cubatão mas, esta é apenas uma das questões envolvidas neste complexo jogo de interesses.
Poderíamos falar do Pescador Artesanal, e falaremos no momento adequado, da omissão do poder público, das inconsistências no processo de licenciamento ambiental, das ações “socioambientais” prometidas pela empresa contudo desta vez falaremos brevemente da contaminação e do risco de Cubatão voltar a ser o Vale da Morte.
Centenas, talvez milhares de produtos tóxicos, cancerígenos e potencialmente causadores de problemas neurológicos foram jogados no estuário e ficaram adormecidos até outro dia. Como se não bastasse a dispersão e a recontaminação dos rios e do mangue pela dragagem, a empresa optou por colocar esse material em um buraco subaquático, de difícil acesso, em que o cidadão comum e/ou as prefeituras não conseguirão monitorar. Aliás, quais as salvaguardas, as medidas protetivas tomada pelas prefeituras locais e/ou pelos órgão ambientais no sentido de proteger o berçário da vida marinha?
Se além do lucro, um dos “objetivos” da dragagem é descontaminar o estuário porque os resíduos não podem ser tratados e acondicionados em um aterro devidamente adequado para esta situação?
Porque estes materiais perigosíssimos podem ficar em um local usado para a pesca artesanal?
Se a dragagem do canal de navegação do Porto de Santos é um processo continuo, aceitaremos várias cavas na Região Metropolitana da Baixada Santista?
A quantidade de perguntas deixa claro que a transparência e o dialogo com a sociedade não é o ponto forte deste processo. Por esse motivo, pescadores, estudantes, lideranças comunitárias, pesquisadores, ONGs e movimentos sociais são contra esta CAVA e toda forma de agressão a natureza.
Meu nome é Leandro, tenho 36 anos, tenho orgulho de dizer que fui morador da Vila dos Pescadores por 3 décadas e que foi da pesca, da venda de caranguejos que meu pai sustentou a minha família e por muitas vezes salvou o nosso Natal.
Leandro Silva de Araújo, Economista, Especialista em Gestão Pública e Regulação em Saúde.
Autor: Leandro S. de Araújo, da Frente Ambientalista da Baixada Santista, especial para o Baixada de Fato.
Comentários